segunda-feira, 8 de julho de 2013

A Estética do CineTrabalho II: A Fala do Sujeito



A estética do CineTrabalho privilegia a expressão audiovisual do Outro como narrador pessoal de sua experiência de proletariedade. Os vídeos-documentários do Projeto CineTrabalho são exposições audiovisuais, num primeiro plano, da fala do sujeito como homem que trabalha. Enfim, o sujeito humano - representações singulares das individualidades pessoais de classe - fala! É claro que alguns filmes de vídeo possuem cenas de ambientes ou cenas de composição que se intercalam nas cenas de depoimentos. Mas o elemento central da estética do CineTrabalho é a fala do sujeito humano que narra sua experiência vivida. O enquadramento do primeiro plano foca a expressão humana em sua narração divagante; busca-se resgatar o momento da conversa face-to-face. O CineTrabalho insiste em recuperar a prática da audição da fala do Outro que relata sua experiência de vida. No mundo do capital, corrói-se a prática (e o hábito) de ouvir o Outro-como-próximo. Poucas vezes ouvimos a fala do Outro como sujeito de si. Cada um vive ensimesmado em si mesmo. A solidão do eu solipsista é o terror das sociedades modernas. Ao nos colocar diante da fala do Outro como sujeito de si, o Cinetrabalho promove um exercicio supremo de humanização que nos incita a identificar-se (ou não) com a experiência do Outro. A fala do Sujeito nos provoca, mesmo que fiquemos indiferentes a ela. Ao contar sua história, o sujeito opaco e intransparente no mundo do capital se expõe, como se escavasse camadas profundas de si, soterradas pela vida reduzida ou vida fetichizada. Existem hoje poucos espaços para o sujeito humano falar de si ou manifestar-se como ser humano-genérico no espaço do capital. A quem interessa ouvir a história narrativa de vida (que é também história do trabalho) que cada um de nós carrega dentro de si? O homem burguês é um homem incomunicativo, homem calado, ou melhor, homem obliterado na sua fala, pois quem fala de sua experiência vivida como história de vida e história do trabalho é sujeito de si, pré-condição para ser sujeito humano capaz de dar resposta radical. Isso não se permite no mundo das mercadorias. Uma última questão: seria a estética do CineTrabalho a estética do anti-Cinema? Ao transformar, por exemplo, o filme de vídeo-documentário num registro audiovisual da fala do sujeito em sua extensão espaço-tempo ( o sujeito fala num único lugar, olhando para a câmera num determinado lapso de tempo), o CineTrabalho rompe, de certo modo, com elementos estéticos convencionais do cinema friccionai e documental. A ação se reduz a fala e ao discurso do sujeito. Mas deve-se lembrar que os vídeos do CineTrabalho são prioritariamente ferramentas audiovisuais para suscitar a reflexão crítica a partir da fala do Sujeito.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A Estética do CineTrabalho


O projeto CineTrabalho possui um estilo de produção e apresentação do registro audiovisual do mundo do trabalho. Trata-se do que poderíamos considerar uma estética da pessoa humana que trabalha. Por isso, nos vídeos produzidos pelo CineTrabalho a narrativa pessoal se impõe. Coloca-se o primado da fala do sujeito humano, sua expressão audiovisual falando de si e de sua experiência vivida. Somos sujeitos humanos na medida em que narramos nossa experiência vivida para o Outro. Somos sujeitos humanos na medida em que ouvimos a fala do Outro e refletimos sobre ela, numa perspectiva crítico-radical. No mundo do capital, homens e mulheres que trabalham e seus dramas humano-pessoais estão envolvidos na alienação cotidiana. Alienados de si e dos outros, o homem que trabalha vive imerso no mundo da pseudo-concreticidade, isto é, mundo da imediaticidade incapaz de refletir sobre a sua condição de proletariedade. Ele está alienado também da sua narrativa pessoal e da fala a respeito de si e do mundo histórico em que vive. Encontrar um espaço para si e um espaço para falar de si e de sua experiência pessoal é um momento de “agrietar", palavra espanhola para produzir rachaduras (como diria John Holloway, autor de “Agrietar el capitalismo"), produzir rachaduras na pseudo-concreticidade da vida cotidiana. Falar de sua experiência laboral é um momento de resgate da pessoa humana. Por isso, a estética do CineTrabalho tem que ser a estética de resgate da pessoa humana soterrada pela alienação da vida cotidiana no mundo do fetichismo da mercadoria. O foco está na pessoa humana que trabalha e sua história de vida/história do trabalho.


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